Que significa a palavra samsara?
A palavra samsara é um substantivo abstrato derivado da raiz sṛ (mover-se), com o prefixo sam, que significa “volvendo em ciclos” ou “ciclo“, e abrange o ciclo de nascimento, morte e renascimento, que é o conceito védico da existência terrena.
É dito nos Vedas que as ações produzem dois tipos de resultados não visíveis ou de efeito retardado: pūṇya, o resultado de boas ações, e pāpa, o resultado de más ações, designados, às vezes, como mérito e demérito, respectivamente.
Uma vez que o ser humano tem o livre-arbítrio, e ele mesmo se considera como aquele que pratica a ação, foi-lhe dado o direito de escolha e, por consegüinte, a respectiva responsabilidade.
Dessa forma, mérito e demérito são armazenados em uma “conta-corrente” invisível em conformidade com as ações praticadas.
Após a morte, os resultados de nossas ações, anteriormente não visíveis, manifestam-se no nascimento seguinte, quando se é submetido a agradáveis experiências que consomem os méritos acumulados, assim como às desagradáveis, que exaurem os deméritos.
Nesse novo nascimento, temos novamente o livre-arbítrio, que mais uma vez acumula mérito e demérito, causando eventualmente um outro renascimento.
Então, fica claro que se está preso à armadilha de um ciclo sem fim de nascimentos e renascimentos – a roda do saṁsāra.
Dessa descrição, poderia parecer que a libertação do saṁsāra seria somente alcançada pelo não acúmulo de mérito e demérito, fontes geradoras de um outro nascimento; e que isso, por sua vez, só seria conseguido pela não-realização de boas ou más ações.
Que tipo de vida teríamos se nenhuma ação fosse praticada? De fato, parece que não é possível evitar-se a ação, porque constantemente um anseio de aprimoramento nos compele a agir.
Não há então uma maneira pela qual se possa desistir de todas as ações, de modo a evitar-se mérito e demérito e o resultante nascimento?
O mesmo Veda que fala do samsara diz: “sim, existe uma maneira”. Reconhecendo-me como sujeito, que é não-objectificável, sem forma, e ilimitada Consciência, vendo que somente Eu, Consciência, existo, e que toda a criação não está de mim separada, visualizo Unidade a despeito da aparente dualidade.
Percebo que não existe uma segunda coisa aparte de mim, sobre a qual, ou com a qual, eu possa levar a cabo uma ação. Assim, em verdade, não posso ser aquele que pratica a ação.
Quando isso é reconhecido, o mérito e demérito constantes da “conta-corrente” do agente da ação desaparecem junto com o papel de agente da ação, exatamente como quando uma pessoa acorda, com o personagem do sonho extinguindo-se, junto com o mérito e demérito criados nesse sonho.
Dessa forma, pelo Conhecimento atinge-se a Liberação do ciclo do samsara.
॥ हरिः ॐ ॥
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Publicado originalmente na revista Mananam, em janeiro de 1982. Digitado por Cristiano Bezerra.
॥ हरिः ॐ ॥