Śūnya significa vazio. Este exercício serve para desvincular-nos das experiências corporais, emocionais e mentais.
A dissolução da identificação com o corpo e o pensamento é essencial para responder àquela pergunta: ‘quem sou eu?‘
Meditação no Vazio: como usar este roteiro?
O texto abaixo pode usar-se como modelo de elocução. Você estuda a técnica e grava a sua própria voz, lendo pausadamente (uma frase a cada quatro segundos, aproximadamente).
É importante respeitar os tempos que aparecem sugeridos entre parêntesis (ou reduzir-los proporcionalmente se for o caso).
Outra opção é fazer pequenos grupos de meditação com seus amigos, onde cada um pode usar este tipo de texto como orientação para dar a prática para os demais.
Se você for professor de Yoga, poderá igualmente usar essa prática nas suas aulas, tomando o cuidado de escolher a técnica mais adequada para cada pessoa ou grupo.
A prática da Meditação no Vazio
Sente numa posição confortável, com as costas eretas. Inspire profundamente e repita o mantra Oṁ sete vezes: Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ.
Espinha ereta. Cabeça na vertical. Mãos em jñána mudrá, nos joelhos. Boca e olhos fechados. Tome consciência do corpo todo.
Observe-se na posição em que você está sentado. Permaneça consciente da posição.
Consciência no āsana e no efeito que ele tem no seu corpo: firmeza, quietude e estabilidade.
Faça uma rotação da consciência por cada uma das partes do corpo: cabeça, pescoço, ombros, braços, mãos, tronco, costas, tórax, abdômen, pernas e pés.
Localize tensões que possa haver em alguma articulação, músculo ou parte do corpo.
Ajuste a posição de maneira que você não precise mais se mexer. Fique totalmente confortável.
O śūnyadhāraṇā começa aqui. Nesta prática faremos uma desvinculação: separaremos a consciência do corpo e dos pensamentos.
Separaremos as experiências do corpo e da mente, do Ser Pleno que somos (1/2 minuto em silêncio).
Agora, coloque a atenção no corpo. Verifique se o corpo está realmente confortável e livre de tensões.
Consciência total no corpo físico denso: músculos, ligamentos, ossos, órgãos, sangue, pele. Visualize o seu corpo.
Tome consciência das experiências físicas do seu corpo: solidez, dor ou prazer, calor ou frio, e outras coisas que possam alterar o estado de atentividade ou afetar o corpo.
Permaneça absolutamente estável: faça kayasthairyam.
Completa quietude do corpo. Completa estabilidade. O corpo está absolutamente imóvel, como uma rocha.
No estado da mais absoluta imobilidade, observe as diferentes experiências fisiológicas do seu corpo. As externas e as internas.
Sensações de calor, frio, peso, leveza, o movimento da respiração, o movimento do seu coração batendo, o movimento do sangue circulando.
Vá para dentro de você mesmo e observe o funcionamento do coração, os pulmões, o estômago, os intestinos e os outros órgãos.
Consciência total na estrutura fisiológica. Desde a superfície da pele à medula dos ossos (1/2 minuto em silêncio).
Agora, gradualmente, separe a consciência do corpo. Você não é a experiência do corpo. Você não é a experiência do calor ou a do frio.
Você não é a experiência de peso ou leveza. Desvincule-se por completo das experiências fisiológicas.
Desenvolva a consciência do espaço dentro do corpo. Desenvolva a consciência do espaço, abrangendo ele por inteiro.
Do topo da cabeça, às pontas dos dedos das mãos e dos pés. O corpo é espaço vazio.
Vazio no interior, vazio no exterior, como um jarro flutuando no espaço (1/2 minuto em silêncio).
Seu corpo é pele oca circundando espaço vazio. Experiencie o seu corpo como pele oca circundando espaço vazio.
Não há mais consciência dos ossos. Não há mais consciência dos músculos. Não há mais consciência dos órgãos. Apenas espaço vazio circundado pela sua pele.
Nesse vazio, experiencie o espaço. Desassocie-se totalmente do seu corpo. Fique consciente do espaço, abrangendo a sua estrutura interna por completo.
Tome consciência do espaço ao redor do seu corpo (2 minutos em silêncio).
Assim como você fez com o corpo e suas experiências, agora fará igualmente a desvinculação das experiências mentais.
Comece por tomar consciência delas. Observe o fluxo do seu pensamento. Não tente controlar o pensamento.
Pense no que você pensa (1 minuto em silêncio). Se um pensamento surgir na mente, observe-o e desvincule-se por completo desse pensamento.
Se um desejo se manifestar, observe-o, mas desvincule-se por completo desse desejo.
Se uma lembrança se manifestar, desvincule-se dela: felicidade, dor, prazer, sofrimento, o que for.
Se um sentimento se manifestar, desvincule-se dele. Desassocie-se. Desvincule-se (2 minutos em silêncio).
Repita mentalmente: “eu não sou este corpo. Eu não sou as experiências deste corpo que sente. Eu não sou a mente. Eu não sou as impressões desta mente que pensa” (1/2 minuto em silêncio).
Consciência total no espaço, abrangendo o interior do corpo e o espaço exterior a ele. O corpo é espaço oco e a mente está totalmente vazia.
Desvincule-se de qualquer experiência. Você é apenas consciência viva. Você é consciência pura (1/2 minuto em silêncio).
Traga agora a consciência para o intercílio. Visualize no intercílio uma chama.
A chama de uma vela [se você puder, faça bhrūmadhyadṛṣṭi, dirigindo o olhar para cima com os olhos fechados em direção ao interior do crânio].
O vazio abrange o corpo por inteiro, interna e externamente. O seu corpo é apenas pele oca circundando espaço vazio.
E você permanece totalmente desvinculado de qualquer experiência. Você é unicamente a consciência pura.
Essa consciência pura no seu interior é quem percebe a luz no intercílio. Visualize a chama. Intensifique a experiência dessa visão.
Sinta que a luz que emana da chama abrange o espaço inteiro, dentro e fora do corpo (1/2 minuto em silêncio).
Assim como o céu escuro pode perceber-se separadamente do brilho da lua, da mesma forma, o vazio que abrange o corpo, da cabeça às mãos e pés, pode perceber-se na luz da chama que brilha no intercílio.
E assim como a luz da chama se espalha pelo corpo, você sente uma sensação de plenitude (2 minutos em silêncio).
Permaneça consciente: você não é o corpo. Você não é a mente. Você é a luz. A luz da chama.
A chama é o símbolo de Puruṣa, o Ser Pleno. E a luz que irradia da chama é a consciência pura (2 minutos em silêncio).
Repita mentalmente: ‘eu não sou este corpo. Eu não sou esta mente. Eu não sou este corpo nem esta mente. Eu sou a chama, a consciência individual, que é manifestação do Ilimitado, Puruṣa.’
Esta consciência não conhece dor nem prazer, luz nem escuridão. Está além dos opostos (2 minutos em silêncio).
Mantenha a consciência da chama no intercílio. A luz da chama abrange o seu ser por inteiro (2 minutos em silêncio).
Aqui começa a vocalização do mantra Oṁ. A cada vez que você faz o Oṁ, sinta o vazio do seu corpo pulsando e vibrando com a vibração do mantra.
O Oṁ é como um raio de luz banhando seu corpo da cabeça aos pés. Com a vibração do mantra, se intensifica a consciência do espaço.
Se intensifica a consciência do ser. Se intensifica a consciência da luz, abrangendo o corpo todo.
Vocalize junto comigo: Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ, Oṁ (3 minutos de vocalização, 3 minutos em silêncio).
Dissolva-se por completo na vibração do mantra e na experiência da luz abrangendo o corpo todo.
Lembre que você não é o corpo nem as experiências dele. Você não é a mente, nem as experiências dela.
Você é a consciência viva, irradiando de Puruṣa, o Ser Pleno. Você está em paz. Paz absoluta consigo próprio e com o mundo (5 minutos em silêncio).
Neste momento, externalize a mente. Encerre esta prática e permita que aos poucos o seu pensamento flua através dos sentidos e as experiências sensoriais.
Tome consciência das experiências da mente, do corpo e do ambiente. Externalize a mente. Externalize os sentidos.
Ao poucos, mova o corpo. Quando estiver pronto, sem pressa, abra os olhos.
A prática de śūnyadhāraṇā, a meditação no vazio, encerra-se aqui. Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ.
॥ हरिः ॐ ॥
Extraído do Guia de Meditação.
“O que você faz quando se libertou de todos os
desejos exceto o desejo de estar livre de desejos?”
meditação no vazio meditação no vazio
meditação no vazio meditação no vazio
Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
Biografia completa | Artigos