Realmente falando, o conhecimento é necessário para a criação acontecer. Tão necessário quanto a causa material, que é o próprio Ser. Tem muito conhecimento envolvido nesta criação. Desde a estrutura de uma folha à estrutura do átomo, cada palavra é só conhecimento. O plano fisiológico, o anatômico e os demais são muito sofisticados. Mas tudo se resolve no conhecimento.
Tanto conhecimento está envolvido que este conhecimento precisa ser traçado, identificado na verdade que é o Ser. O conhecimento não está separado do Ser, que é a própria consciência auto-revelada. Nada é independente da Consciência. A consciência não é conhecimento. O conhecimento é Consciência. Se a pétala existe, a flor existe. Você pode tirar a palavra, mas o objeto permanece. Seja qual for a língua que você usa para designar a flor, ela será sempre uma flor. Seja qual for o nome que você usa, o significado é sempre o mesmo.
Esse conhecimento é o conhecimento sobre aquilo que é. Portanto, todo conhecimento deve ter algo que chamamos maya. Qualquer coisa que não seja o Ser, será maya. Aquilo que é, é o Ser auto-revelado. O mundo deve estar aqui. Namarupa é conhecimento. Nada além de conhecimento. Portanto, Brahma é conhecimento ilimitado, usado para criar o mundo. Antes da criação Brahma é conhecimento.
Olhe por exemplo para uma semente. Nela reside potencialmente a árvore. Se você abrir a semente, você encontra lá alguma indicação da existência das raízes, as folhagens ou o tronco? Não. Nada. No entanto, tudo está lá, potencialmente, indiferenciado. Da mesma forma, tudo é conhecimento. Depois da manifestação, você reconhece os diferentes nomes e formas: tronco, raiz, folhas, frutos, etc. O mundo inteiro sempre esteve potencialmente no Ser indiferenciado, assim como a árvore sempre esteve potencialmente presente na semente. Manifestado ou não manifestado, o Ser é sempre o Ser.
Ishvara não criou o mundo. O mundo é Ishvara. Entenda a diferença. Você criou o mundo e depois sentou aqui? Você pode perguntar isso para Ishvara. Você pode me perguntar por que eu vim ate você. No entanto, isto é o jeito que Ishvara é. Aquilo que Ishvara é, é esse jeito. Você é purnam pois somente há um purnam. Não pode haver dois purnams.
Um círculo não tem início nem fim. O ciclo das manifestações tampouco tem início nem fim. O presente período começou há 12 bilhões de anos atrás. Com os modernos telescópios é possível ver a luz daquela época e é possível testemunhar esses primeiros raios de luz, que ainda estão viajando pelo espaço. Essa é uma manifestação metódica.
As águas do oceano não congelam no inverno. As águas doces congelam nos lagos e rios. O sal não deixa a água do mar congelar pois o ponto de congelamento diminui muito. Assim como a água do oceano não congela por conta da presença do sal, da mesma forma, por conta da presença do ser, o universo inteiro torna-se manifestado. Se não houvesse conhecimento pré-existente, não haveria criação. A criação só acontece por causa da presença do conhecimento.
Uma criança nasce. Ela tem olhos, orelhas, cérebro, órgãos internos, ossos, etc. Tudo colocado junto por uma inteligência sofisticada. O autor é a mãe. Quando a criança nasce, o corpo é dado para ela. Seus pais, igualmente, são dados para ela. Tudo é dado, todas as possibilidades, o universo inteiro é entregue para a criança quando nasce. Tudo é dado. Ninguém deveria considerar-se como autor de nada. Tudo é dado para nós. Quanto mais você analisa a natureza daquilo que é lhe dado, mais você compreende que tudo está na forma de conhecimento. Portanto, a possibilidade da existência de alguém que dá, é muito real.
Ishvara, como criador, não pode ser uma individualidade que criou o mundo e sentou num trono depois. Ishvara não é o dono da cobertura. Ele não criou o mundo e ficou com o melhor apartamento para ele. A criação é conhecimento. Precisamos compreender isto bem. O mundo criado não pode ser separado do criador. Pois, se a causa material existisse separada do criador, se fossem coisas diferentes, de onde surgiu o material? Onde estava guardado antes? Ele era pré-existente?
O que separa o material? O espaço. E quem criou o espaço? De que material o espaço derivou? Tempo e espaço fazem parte do mesmo pacote, na criação. O mundo é assim. Imagine um músico que vai dormir. No sono, ele não sabe que é um músico. No sono, ele não é um músico. E o mendigo que dorme, não é mendigo no sono. E o rei que dorme, não é rei no sono. E o cego que dorme, não é cego no sono. O conceito de tempo se evapora. O conceito de espaço se esvai.
Num determinado momento, enquanto você dorme, você acorda, mas não totalmente. Retorna um pouco apenas. Você fica meio acordado. Aí, você entra no estado de sonho. Você sonha e pensa no sol. O sol aparece no sonho. Você pensa no sol, e o sol é. Você pensa, o sol passa a existir. O sol não pode vir sem tempo nem espaço. Essa é a verdade do mundo. Junto com tempo e espaço, os objetos surgem. Assim, no seu sonho, surgem o céu, a terra, a natureza e as pessoas. Uma pessoa pergunta para outra dentro do sonho: quem criou tudo isto? Foi o seu conhecimento do sol, da terra, da natureza, o que criou esse mundo no seu sonho. Tudo o que está no sonho, é parte de você. Você é o fazedor, e a causa material. Na situação do sonho, você é o fazedor, o criador, a causa instrumental e a causa material da criação.
Da mesma forma, tudo o que está aqui é Ishvara. Ninguém pode dizer ‘eu acredito em Ishvara’. Ishvara não é algo sobre o qual você deve acreditar. Ishvara é para ser compreendido. A criação inteira é Ishvara. Não existe nada separado dele. Portanto, não dizemos que há um deus, ou que há múltiplos deuses. Dizemos que há somente Deus. Ishvara está presente nas variadas ordens da criação: ordem natural, ordem fisiológica, ordem anatômica, etc. A ordem que governa o dharma é Ishvara. E essa ordem é satchitananda, realidade, consciência e plenitude.
Mithyam é uma palavra que descreve a realidade. Não pode ser considerada uma ‘realidade paralela’ ou coisa que o valha. Não é um objeto. É uma palavra que revela a sua compreensão da natureza. Como a palavra satyam. Satyam é aquilo que é auto-existente. Esta é uma palavra que revela sua compreensão da natureza. Mithyam não está separado do Ser.
Quando a pessoa nasce no mundo, a confusão já está instalada, pois não há início para a ignorância. Ela só pode ter fim. Não pode ter tido um início pois, se a ignorância não estava num determinado momento, o que havia no lugar dela só pode ter sido o conhecimento. Sem início = sem final. Isso vale para tudo, menos para o Ser.
O ouro é ouro, independentemente da forma que o metal assuma. O ouro não muda de natureza quando sua forma muda. Você é o Brahman ilimitado. Então, donde surge a sensação de ser limitado? Você é ilimitado, só que você não está vendo isso. Você não vê, por causa da sua ignorância. E como nasceu a minha ignorância? Ela não nasceu. Sempre esteve lá. Uma caverna fica milênios na escuridão. Quanto tempo leva para ela ser iluminada? O tempo de ligar uma lanterna. Só.
Eu experiencio a felicidade. A felicidade deve surgir de algum lugar. Quem sabe, a felicidade não pode ser experienciada como um objeto. Quem sabe, a felicidade sou eu. É por isso que você não se queixa quando está feliz. A felicidade não está nem dentro nem fora. Você é a felicidade. É o que você experiencia.
Então, Brahman ‘tornou-se’ muitos sem se tornar. Ele assume o status de causa do mundo. Ele precisa de um planejamento para fazer acontecer a criação. Como foi realizado este esforço? Através de um processo chamado Vikara Yoga. Vikara significa modificação. Lembre que o Ser não está sujeito a nenhuma modificação. Nada do que existe neste mundo, com e sem forma, tempo, espaço, nada disso, está separado do criador. O criador é o Ser consciente. E tudo o que aqui existe é o Ser consciente. É consciência fora e consciência dentro. Só consciência. Tudo cabe na consciência. Não existe nada afora a consciência.
Num sonho, você vê rochas, e um sapo sentado numa pedra. A pedra não é consciente, o sapo é. Mas ambos, o pensamento da pedra e o pensamento do sapo no seu sonho, são pensamentos conscientes. Existe conhecimento subjazendo cada pensamento. Até mesmo os pensamentos relativos a coisas não conscientes, como a pedra. Da mesma forma acontece no universo. O mundo é do jeito que é porque não pode ser de outro jeito. Nada existe afora da consciência. O mundo inteiro é Ishvara.
Até mesmo uma gota de orvalho na ponta de uma folha de grama é de fundamental importância na criação. Cada coisa tem o seu lugar na criação. Qual é a importância dessa gota de orvalho num lugar inundado? Qual é a importância de um indivíduo humano na criação?
Swāmi Dayānanda Saraswatī (1930-2015) ensinou a sabedoria tradicional do Vedanta por cinco décadas, na Índia e em todo o mundo. Seu sucesso como professor é evidente no sucesso dos seus alunos: mais de 100 deles são agora Swāmis, altamente respeitados como estudiosos e professores.
Dentro da comunidade hindu, ele trabalhou para criar harmonia, fundando o Hindu Dharma Acharya Sabha, onde chefes de diferentes seitas podem se reunir para aprender uns com os outros.
Na comunidade religiosa maior, ele também fez grandes progressos em direção à cooperação, convocando o primeiro Congresso Mundial para a Preservação da Diversidade Religiosa.
No entanto, o trabalho de Swāmi Dayānanda não se limitou à comunidade religiosa. Ele é o fundador e um membro executivo ativo doAll India Movement (AIM) for Seva.
Desde 2000, a AIM vem trazendo assistência médica, educação, alimentação e infraestrutura para as pessoas que vivem nas áreas mais remotas da Índia.
Havendo crescido em uma pequena vila rural, ele próprio entendeu os desafios particulares de acessar a ajuda enfrentada por pessoas de fora das cidades. Hoje, o AIM for Sevaestima ter ajudado mais de dois milhões de pessoas necessitadas em todo o território indiano.