Removendo o véu: A jóia da meditação profunda vem pela descoloração dos obstáculos mentais que cobrem o Eu verdadeiro. Embora o Yoga tenha sido definido nos sutras 1.1-1.4, o processo de experimentar o objetivo do Yoga, a Auto-realização, inicia nesta seção. Cinco tipos de pensamentos que interferem: Existem cinco tipos de impressões mentais (1.4) que bloqueiam a realização do verdadeiro Eu (1.3):
1- conhecimento correto,
2- conhecimento incorreto,
3- imaginação,
4- sono profundo,
5- memória (1.5, 1.6).
O yogi aprende a testemunhar estes cinco tipos de pensamentos de modo não-apegado (1.15-1.16), a discriminar entre estes cinco e a cultivar o primeiro tipo de pensamento, que é o conhecimento correto (1.7).
São coloridos e não coloridos: Estes padrões de pensamentos podem ser coloridos (klishta) ou não coloridos (aklishta) (1.5). As cores estão relacionadas com a ignorância, individualidade, apegos, aversões e medos (2.3). A simples observação se os padrões de pensamentos são coloridos ou não coloridos é uma parte extremamente útil do processo de purificação, equilíbrio, estabilização e aquietação da mente, de forma que a meditação profunda possa acontecer.
Testemunhando, explorando e descolorindo: Ao aprender como explorar, como se tornar uma testemunha dos cinco tipos de pensamentos e como enfraquecer a intensidade da cor (1.16) através dos vários processos da meditação do Yoga, o véu sobre a Verdade gradualmente será afinado (1.2) e iremos conhecer o verdadeiro Eu (1.3).
O conceito mais importante: Este processo de descoloração é um conceito extremamente importante e é tratado em capítulos subsequentes (2.1-2.9, 2.10-2.11). É um conceito tão importante que é virtualmente impossível praticar Yoga sem entender este conceito. Leia também os artigos Uncoloring your Colored Thoughts e Witnessing Your Thoughts.
(Nota do tradutor: texto traduzido e disponível neste site sob o título Testemunhando seus pensamentos em práticas de Yoga)
1.5 Os padrões de pensamentos densos e sutis
(vrittis) se enquadram em cinco categorias,
das quais algumas são coloridas (klishta) e
outras são descoloridas (aklishta).
(vrittayah pancatayah klishta aklishta)
* vrittayah = os vrittis são
* pancatayah = cinco invólucros (e dois tipos); panch significa cinco
* klishta = colorido, doloroso, aflitivo, impuro; a raiz klish significa causar problema; (klesha é a forma substantiva do adjetivo klishta)
*aklishta = não colorido, não doloroso, não aflitivo, puro; não impregnado com kleshas; a raiz a- significa sem ou na ausência de, portanto, sem a cor denominada klishta.
Cinco tipos de pensamentos – colorido ou não colorido: Este sutra introduz a natureza dos cinco tipos de pensamentos e o fato de serem coloridos (klishta) e não coloridos (aklishta) influencia todo o processo do Yoga. Neste processo, gradualmente, sistematicamente, colocamos de lado todas as falsas identidades que nublam o verdadeiro Eu. Este processo de descoloração é um conceito extremamente importante, e é desenvolvido em capítulos posteriores (2.1-2.9, 2.10-2.11).
Alguns pensamentos são coloridos
com atração e aversão,
enquanto outros pensamentos
são descoloridos ou neutros
Significados de klishta e alishta: Klishta e aklishta são um par de palavras que contrastam entre si. Com o “a-” na frente de klishta, ela se torna aklishta. Assim, colorido (klishta) se torna descolorido (aklishta). Traduzir como colorido e não colorido dão algum significado, ou sentido, para estas palavras. A razão para enfatizar a tradução como colorido e não colorido é que pode ser percebido com mais facilidade como estando relacionado aos padrões de pensamentos (vrittis), que são o material do qual são feitas as nuvens sobre o Eu. Em outras palavras, o vritti é colorido pelo processo klishta, por assim dizer. É como um livro de figuras em preto branco para crianças, que pode ser colorido usando-se aquarela (klishta). Colocar o problema desta maneira sugere a solução, que é remover a cor (aklishta).
A escolha do par de palavras: Outros pares de palavras tem sido usadas para descrever klishta e aklishta, e cada par adiciona um certo “tempero” ao significado. Quando estivermos usando a noção de colorido e não colorido para klishta e aklishta, pode ser útil lembrar dos pares de palavras abaixo:
* klishta – aklishta
* doloroso – não doloroso
* inútil – útil
* aflitivo – não aflitivo
* impuro – puro
* problemático – não problemático
* negativo – positivo
* vício – virtude
* afastando da iluminação – aproximando da iluminação
* resulta em cativeiro – resulta em liberdade
Sendo confundido pelos pensamentos: Os quatro primeiros sutras descrevem como podemos conhecer nosso verdadeiro Eu, Pensamentos são densos ou sutis:
Sendo confundido pelos pensamentos: Os quatro primeiros sutras descrevem como podemos conhecer nosso verdadeiro Eu, e explicam que quando não estamos experimentando esta Realidade, nos identificamos com ou nos confundimos com os vários níveis do nosso conteúdo mental. Estas identificações são parte dos cinco padrões de pensamento, seja um ou uma combinação dos cinco. São tanto coloridos quanto descoloridos.
Pensamentos são densos ou sutis: Estes padrões de pensamentos não são apenas os pensamentos que experimentamos no dia a dia. Este conceito de padrão de pensamento (vrittis) pode ser denso ou muito sutil. O significado se torna gradualmente mais claro com a prática dos métodos.
Testemunhando as cores:Observar as cores de nossos padrões de pensamentos é uma das práticas mais úteis do Yoga, e pode ser feita durante nossas atividades diárias. Esta meditação em ação, ou atenção plena, pode ser de grande valor para clarear um mente nublada, para que nas práticas de meditação sentada possamos ir muito mais fundo.
Como testemunhar as cores: Observar as cores dos pensamentos significa, simplesmente, que quando um pensamento e a emoção a ele associada emergem, dizemos – “é colorido” ou – “não é colorido”. De modo semelhante, testemunhar se alguma decisão ou ação é útil ou inútil traz grande controle sobre nossos hábitos mentais. É só observar e dizer para si mesmo: “isto é útil” ou “isto é inútil”.
O processo de descoloração: O Yoga se fundamenta em dois princípios: Abhyasa e Vairagya (prática e não-apego; sutras 1.12-1.16). Então aquele que vê descansa em sua Verdadeira natureza (1.3). Neste artigo, é apresentado o significado sutil de como lidar diretamente com o apego, ao observar que os cinco tipos de padrões de pensamentos são klishta ou aklishta, colorido ou não colorido.
O processo de descolorir as impressões profundas é desvelado em estágios. Precisamos gradualmente estabilizar a mente e enfraquecer as cores, para que possamos começar a ter alguns vislumbres daquilo que está além das impressões mentais e suas cores. Para entender melhor o processo, veja os artigos abaixo :
* Esforços e compromissos (1.19-1.22)
* Obstáculos e soluções (1.30-1.32)
* Estabilizando e clareando a mente (1.33-1.39)
* Diminuindo as cores densas (2.1- 2-9)
* Lidando com pensamentos sutis (2.10-2.11)
* Quebrando a aliança do karma (2.12-2.25)
* Os oito membros e a discriminação (2.26-2.29).
(Nota do tradutor: artigos ainda não traduzidos)
1.6 Os cinco tipos de padrões de pensamento
para testemunhar são: 1- conhecimento correto (pramana),
2- conhecimento incorreto (viparyaya),
3- fantasia ou imaginação (vikalpa), 4- o objeto vazio que
é o sono profundo (nidra) e 5- recordação ou memória (smriti).
(pramana viparyaya vikalpa nidra smritayah)
* pramana = cognição real ou válida, conhecimento correto, prova válida, ver claramente
* viparyayah = cognição irreal, indiscriminação, cognição distorcida, conhecimento errado, concepção errada, conhecimento incorreto, não ver com clareza
* vikalpah = imaginação, concepção errada verbal ou ilusão, fantasia, alucinação
* nidra = sono profundo
* smritayah = memória, recordação
Existem somente cinco tipos de pensamentos: As incontáveis impressões mentais, que vem para o campo da mente e que formam a matriz da barreira ou véu que cobre o verdadeiro Eu, ou centro de consciência, são classificadas em uma, ou uma mistura, das cinco categorias de pensamento. Em outras palavras, enquanto existem muitas impressões mentais individuais, não existe um número infinito de tipos de pensamentos, mas somente cinco. Isto pode ajudar a ver a simplicidade subjacente do processo do Yoga, não se perdendo na aparente multiplicidade dos reinos denso e sutil.
* Pramana / correto
* Viparyaya / errado
* Vikalpa / imaginado
* Nidra / sono profundo
* Smriti / memória
Posicionar os cinco tipos de pensamentos nos dedos é uma boa maneira para lembrar.
Testemunhando os cinco tipos de pensamentos: Ao aprender a observar o processo de pensamento e a discriminar os cinco tipos de objetos mentais, começamos a obter controle sobre estes objetos mentais e sobre a capacidade que possuem de influenciar nossas ações, fala e pensamentos.
Com maestria na ação de testemunhar: Quanto nos aproximamos de alcançar a maestria na ação de testemunhar, gradualmente encontramos uma posição de testemunha neutra, desapegada (1.15, 3.38), onde podemos observar todo o fluxo da mente, enquanto permanecemos calmos e imperturbáveis, não afetados e não envolvidos. Assim a meditação pode se aprofundar sistematicamente.
Sem a maestria na ação de testemunhar: Sem a maestria, nos tornamos vítimas de nosso processo mental inconsciente, perdendo a liberdade de escolha na vida interna e a habilidade de experimentar a meditação profunda.
Pramana é o padrão para ser cultivado: Dos cinco tipos de padrões de pensamentos, pramana, ou conhecimento correto, é aquele para ser cultivado. O processo de continuamente e gradativamente ver com mais clareza, traz progresso no caminho da meditação. Este processo de ver com clareza, de ver as coisas como elas são, é uma das maneiras de descrever a jornada interior, eventualmente revelando o absoluto e imutável Eu Real.
1.7 Existem três caminhos para conseguir conhecimento correto
(pramana): 1- percepção, 2- inferência e 3- testemunho ou comunicação
verbal de pessoas que possuem conhecimento.
(pratyaksha anumana agamah pramanani)
* pratyaksha = percepção ou cognição correta
* anumana = inferência, raciocínio, dedução
* agamah = autoridade, testemunho, validação, evidência adequada
* pramanani = meios válidos de conhecimento, provas, fontes de conhecimento correto
Três caminhos para obter conhecimento correto: O primeiro dos cinco tipos de padrões de pensamento descrito no sutra anterior é pramana, que é cognição real ou válida, conhecimento correto, prova válida, ver com clareza. Neste sutra 1.7 são descritas três maneiras diferentes sobre como obter conhecimento correto: percepção direta, raciocínio e prova. Cada uma é válida e sozinha pode prover conhecimento correto, apesar de ser melhor que as três estejam de acordo. Esta descrição do conhecimento correto se aplica tanto aos meios mundanos de conhecimento, como ver um objeto no mundo exterior, quanto as percepções espirituais na jornada interior.
Procure ter a experiência, não acredite simplesmente: Na tradição oral do Yoga, é dito que não devemos acreditar no que ouvimos, mas devemos procurar a experiência direta. Este é o significado do primeiro meio de conhecimento correto, a percepção direta. O segundo meio de conhecimento correto é o raciocínio, através do qual queremos que a experiência seja entendida na luz de nossa própria inferência e raciocínio. No terceiro meio de conhecimento correto, buscamos a validação através de alguma autoridade ou testemunho respeitável. Pode ser uma autoridade textual, como o Yoga Sutras, ou alguma pessoa respeitável que possua conhecimento original.
Fazendo os três convergirem: Quando podemos fazer estes três meios convergirem, significa que a experiência, o raciocínio e a autoridade válida concordam entre si. Então sabemos, e sabemos que sabemos, a respeito de algum aspecto da jornada interna. Assim, este sutra é uma ferramenta extremamente prática para a jornada interna.
E se os três não convergirem?: Considere a alternativa de não haver convergência. Com freqüência, as pessoas tem alguma experiência na jornada espiritual interior, e não conseguem entender o que aconteceu, nem alguma explicação. Pode ser frustrante e assustador e pode nos fazer sentir perdidos por muito tempo. Se a experiência for entendida e validada, pode ser integrada e usada como um ponto de partida para percepções espirituais mais avançadas. Se temos apenas raciocínio lógico, mas não temos experiências ou validação, pode levar a mera intelectualização. Se temos apenas o conhecimento confiável, sem o entendimento ou experiência pessoal, pode levar a memorização fria, tal como pode acontecer em ambientes acadêmicos ou religião de fé cega.
Busque os três e a convergência: Para o buscador sincero, a experiência direta, o raciocínio e a validação são pensados em relação a jornada interior de forma a haver uma convergência destes três.
1.8 Conhecimento incorreto ou ilusão (viparyaya) é
conhecimento falso formado pela percepção de alguma coisa
como sendo diferente do que realmente é.
(viparyayah mithya jnanam atad rupa pratishtam)
* viparyayah = cognição irreal, indiscriminação, cognição distorcida, conhecimento errado, concepção errada, conhecimento incorreto, não ver com clareza
* mithya = irreal, falso, errôneo, ilusório
* jnanam = conhecer, saber
* atad = não próprio
* rupa = forma, natureza, aparência
* pratistham = baseado em, possuir, estabelecer, ocupar, constante, permanecer
Conhecimento incorreto: Percebendo uma coisa como sendo algo diferente do que realmente é.
Exemplos clássicos: Um exemplo clássico de desvio de percepção é o Vaso de Rubin, que é o desenho de um vaso e o desenho de duas faces, ao mesmo tempo. Dois exemplos clássicos são dados pelos Yogis para a percepção incorreta chamada viparyaya. O primeiro é confundir uma corda com uma cobra quando a luz é fraca, como no lusco-fusco ao amanhecer ou anoitecer. Uma corda é sempre uma corda, embora a mente a tenha percebido de maneira errada por um momento. O segundo exemplo é semelhante, onde se confunde um poste à distância como sendo um homem parado nas sombras.
Clareando muitos níveis de percepção errada: Na jornada interior da meditação do Yoga, existem muitas correntes e contra-correntes que são exploradas e examinadas (2.1-2-9, 2.10-2.11, 3.9-3.16, 4,9-4.12). Uma maneira de descrever este processo, é dizer que estamos tentando ver onde cometemos erros de percepção (viparyaya), e queremos ver com clareza (pramana, 1.7). Podemos então transcender aquele objeto no campo da mente, deixando para traz as quatro formas de ignorância, ou avidya (2.5) e conhecer o nosso verdadeiro Eu (1.3).
Observe as falsas percepções no dia a dia: Se a razão para não experimentarmos nossa verdadeira natureza (1.3) é a neblina causada pelas falsas identidades (1.4), então devemos começar a reparar na maneira pela qual não vemos com clareza, de forma a corrigir a falsa percepção. Para a maioria de nós, este processo de engano de identidade acontece com facilidade no dia a dia.
Relacionamentos com pessoas: Lembremos com que freqüência vemos uma situação de uma forma, para mais tarde descobrir que havia um pedaço de informação faltando, e que mudou nossa percepção totalmente. Por exemplo, imaginemos que vemos um amigo que está de cara feita ao invés de um sorriso, e esta atitude pode parecer negativa em relação a nós. Aquela pessoa pode, na verdade, estar bravo por ter tido uma discussão com alguém da família e a reação não tem algo a ver conosco.
Falsa percepção pode causar cores: O problema com as falsas percepções é que podem gerar cores, kleshas (1.5, 2.1-2.9). Se fossem só falsas percepções, sem cor alguma, não haveria problema. Podemos imaginar o potencial da falsa percepção em relação a relacionamentos com pessoas, como no exemplo acima. O resultado pode ser o aumento do egoísmo, atrações, aversões e medos. Assim, queremos que a falsa percepção (viparyaya) se torne percepção correta (pramana, 1.7).
1.9 Fantasia ou imaginação (vikalpa) é um padrão
de pensamento que possui expressão verbal
e conhecimento, mas para o qual não há
a existência do objeto ou realidade.
(shabda jnana anupati vastu shunyah vikalpah)
* shabda = palavra, som, expressão verbal
* jnana = conhecer, saber
* anupati = seguir, em seqüência, depender de
* vastu = uma realidade, objeto real, existência
* shunyah = desprovido de, sem, vazio
* vikalpah = imaginação, concepção errada verbal ou ilusão, fantasia, alucinação
Não existe realidade “palpável”: Nossa mente está sempre pensando e criando cadeias de palavras e imagens. Com freqüência este processo gera pensamentos ou impressões que não são reais. Os dois tipos de pensamentos discutidos nos dois sutras anteriores estão relacionados com a realidade, vista com clareza (1.7) ou não (1.8). Entretanto, vikalpa não possui correspondência com a realidade, independente de ter ou não clareza.
Exemplo clássico: Um exemplo clássico usado por yogis é o chifre do coelho. Um coelho não possui chifres, embora possa facilmente ser conceitualizado. O pensamento e a imagem estão lá, mas não há realidade correspondente.
Sobre objetos e pessoas: Parece ser um hábito da mente humana criar todo o tipo de idéias fantasiosas sobre objetos e pessoas. Podemos fantasiar possuir algum objeto, fazer ou falar com alguém ou criarmos no campo da mente as pessoas e objetos. Por exemplo, com os objetos reais e pessoas reais em meu mundo, posso criar a idéia fantasiosa que estas coisas são minhas. A impressão mental dos objetos e pessoas podem ser reais (1.7) ou erradamente percebidas (1.8), mas as impressões relacionadas ao conceito “meu” são totalmente fantasiosas, ou vikalpa.
Vivendo no futuro: Com freqüência falamos de um processo mental que é viver no futuro. A mente pega pensamentos correntes, rearranjando-os e então fantasiando alguma combinação nova como sendo o futuro, embora esta fantasia esteja sendo criada no presente.
Vikalpa e avidya: É útil refletir sobre a relação entre este processo de fantasia da mente e as quatro formas de ignorância (avidya) que são descritas no sutra 2.5.
Criatividade: Enquanto falamos sobre como lidar com os padrões de pensamento da mente (1.2) para conseguir a Auto-realização (1.3) é importante perceber que estes processos mentais não são ruins no contexto da vida e do mundo. A mesma fantasia ou vikalpa que nubla nosso verdadeiro Eu, também é a mente criativa que encontra soluções para problemas no mundo externo ou ao nível de nosso ser pessoal. É vikalpa que cria o estilo de vida e o ambiente no qual vivemos, os quais usamos para fazer nossas meditações.
Exemplos sutis: Eventualmente, enquanto a meditação se aprofunda, passamos a ver cada vez com maior clareza que, de fato, toda a nossa percepção da realidade externa e interna é vikalpa, um produto da imaginação. Perceba que a raiz da palavra imaginação é imagem; incontáveis imagens são produzidas e armazenadas para depois emergir no campo da mente. Até mesmo a sutileza dos cinco elementos (terra, água, fogo, ar e espaço), os sentidos cognitivos e ativos (indriyas) e as quatro funções da mente, são produtos do processo de vikalpa. Este processo de discriminação sutil é apresentado nos próximos sutras.
1.10 Sono sem sonho (nidra) é o padrão
de pensamento sutil que tem por objeto uma inércia,
um vazio, uma ausência, uma negação dos
outros padrões de pensamento (vrittis).
(abhava pratyaya alambana vritti nidra)
* abhava = ausência, não existência, não ocorrência, negação, vazio, nada
* pratyaya = a causa, o sentimento, princípio causal ou cognitivo, noção, conteúdo da mente, idéia presente, cognição
* alambana = suporte, substrato, inclinar, depender, tendo como uma base ou fundação
* vritti = operações, atividades, flutuações, modificações, mudanças, ou várias formas no campo da mente
* nidra = sono profundo
A mente se foca no objeto chamada sono: É como se o sono fosse um processo no qual a mente está focada na própria ausência, como se a não existência fosse um objeto. Metaforicamente, é como se a mente estivesse focada em um objeto preto e macio que repousa em uma área escura. Existe alguma coisa ali para a mente se focar, apesar de não existir algo no sentido que normalmente consideramos como sendo um objeto.
A mente normalmente descansa sobre um suporte: Normalmente, a mente descansa sobre, ou foca em um objeto. Este é o significado da palavra alambana. Assim, nidra, ou sono, é o estado onde a atenção está focada, ou absorvida, neste objeto da própria negação ou vazio.
Sono é a ausência dos outro quatro: Quando outro tipo de padrão de pensamento está presente, a mente normalmente está ocupada ou confundida com este padrão. Quando os quatro padrões de pensamento submergem ou quando a mente não está envolvida com eles, então vem o estado de sono. Como alternativa, quando estamos livres dos cinco tipos de padrões de pensamento, e permanecemos conscientes, isto é samadhi.
Na verdade o sono é um objeto: A primeira vista pode parecer um detalhe insignificante, mas é muito importante. Segundo os primeiros sutras (1.2-1.4), a razão pela qual não experimentamos o Eu eterno é que a consciência está envolvida com outros objetos.
Quando percebemos que entrar no sono é um processo de focar em mais um objeto, fica claro porque queremos permanecer no estado desperto na meditação, enquanto aprendemos a não nos envolver com os objetos que interferem na meditação, incluindo o sono, que é como um objeto preto e macio. Na meditação focamos intencionalmente em um objeto, para assim, em algum momento, abandonarmos todos os objetos, e experimentarmos o estado de ausência de objetos que está além destes objetos.
Em outro sentido, o sono é um nível, não um objeto: Quando traduzimos estas palavras da ciência da meditação do sânscrito para outra língua, podemos despropositalmente fazer alguma confusão. Aqui, nidra é traduzido como sono. Entretanto, ao considerar os níveis de consciência, os reinos denso, sutil e causal, o nível mais profundo é chamado prajna, que é o nível do conhecimento (jña) supremo (pra).
Este também é considerado como sendo o nível do sono profundo. Assim, usamos a palavra sono de duas formas diferentes mas compatíveis. Se sabemos disto, não há confusão. O Yoga do Yoga Sutras é muito prático e a ênfase neste sutra é comparar quando a mente se envolve ao redor do vritti (padrão de pensamento) sono, com os outros quatro tipos de vrittis.
(Nota do tradutor: para entender o conceito de “envolvimento da mente ao redor do vritti” leia o artigo já traduzido e disponível neste site, Quatro aforismos fundamentais do Yoga Sutras)
Sobrepujando a falsa identificação com o sono: Quando falamos em sobrepujar o processo mental em relação ao envolvimento com objetos ou fantasias, deve fazer algum sentido, mesmo em um nível superficial de entendimento. Em relação ao sono, é importante perceber que queremos nos mover em direção a desidentificação com o objeto sono, do mesmo modo que com os demais objetos mentais. Então, novamente, o Eu verdadeiro vem a brilhar.
Não confunda sono com samadhi: No elevado samadhi não há objeto que tenha forma. Algumas vezes foi descrito como vazio. É um grande erro confundir samadhi com o vazio sem objetos que vem com o sono profundo. Samadhi e sono profundo são experiências muito diferentes.
1.11 Recordação ou memória (smriti) é uma modificação
mental causada pela reprodução interior de uma impressão
prévia de um objeto, mas sem adicionar características de outras fontes.
(anubhuta vishaya asampramoshah smrith)
* anubhuta = experimentado
* vishaya = objetos da experiência ou impressões
* asampramoshah = não ser roubado, não ser perdido, não tendo adições
* smritayah = memória, recordação
A memória pode empregar associações: A memória é algo com a qual todos estamos familiarizados. Algumas impressões previamente armazenadas simplesmente acordam, rodopiam no inconsciente e então afloram na área desperta da consciência, tendo furado o véu entre consciente e inconsciente. Entretanto, uma memória que se eleva, com freqüência traz consigo outras memórias que se ligam de tal forma que a memória original não é mais vista em sua forma pura. Em outras palavras, a memória está sendo distorcida. Ela é misturada com outros tipos de padrões de pensamento.
Uma simples memória é menos do que um bloqueio para a meditação: A memória descrita neste sutra é a memória pura, sem subtrações ou adições de outras memórias ou do processo mental criativo, fantasioso, alucinante. Pela discriminação entre os tipos de pensamentos, podemos ver quais são simples memórias, quais são memórias distorcidas e vertidas em fantasias, e quais são vikalpa, descrito no sutra 1.9. Simples memórias não perturbam muito nossa paz mental natural. Mas quando estas simples memórias estão associadas com outros processos mentais, leva ao processo mental problemático que bloqueia a meditação profunda.
Próximo sutra: 1.12
Sutra anterior: 1.4 (Veja o artigo Quatro Aforismos Fundamentais do Yoga Sutra neste mesmo site)
Traduzido pelo yogi Rogério Maniezi do original Yoga Sutras 1.5-1.11: Un-Coloring Your Thoughts, também de autoria de Swami Jnaneshvara Bharati, disponível em SwamiJ.com.
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É MUITO DIFICIL DE EXPLICAR O QUE SENTI QUANDO LI ESSA PÁGINA,POIS NÃO SE PODE CAPTAR COM PALAVRAS, É O PRINCIPIO DA SABEDORIA DIVINA.