Uma citação do Kularṇāva Tantra (9.41) afirma o objetivo último do Haṭha Yoga, que é a realização de Deus, a iluminação, aqui e agora, num corpo divinizado ou imortal.
Muitas vezes essa realidade é expressa com o símbolo do estado de equilíbrio ou harmonia (samarāsa) no corpo, no qual a energia vital, costumeiramente difusa, estabiliza-se por fim no canal central.
Essa ideia está presente no próprio termo Haṭha Yoga, que se explica esotericamente como a união (Yoga) do ‘sol’ e da ‘lua’, a conjunção dos dois grandes princípios ou aspectos dinâmicos do corpo-mente.
A força vital (prāṇa) polariza-se ao longo do eixo da coluna. Afirma-se que o pólo dinâmico (representado por Śakti) fica na base da coluna e o pólo estático (representado por Śiva), no topo da cabeça.
O Caminho do Hatha
A obra do haṭhayogin consiste em unir Śakti e Śiva. Para que aconteça esse casamento, porém, é preciso antes estabilizar a corrente alternada de força vital que anima o corpo.
Esse fluxo dinâmico (comumente chamado de hamsa) tem um pólo positivo e um negativo; sobe e desce pelo lado esquerdo e o lado direito do corpo 21.600 vezes por dia (1).
A corrente positiva tem o efeito de esquentar, e a negativa, o de esfriar. No nível material, elas correspondem respectivamente aos sistemas nervosos simpático e parassimpático.
Segundo o modelo tântrico do corpo humano, o canal axial (chamado suṣumṇā) é circundado pelas nāḍīs idā e piṅgalā, de forma helicóide. Piṅgalā é o conduto ou o fluxo da força solar, à direita.
A sílaba ha na palavra haṭha também representa a força solar do corpo e a sílaba ṭha representa a força lunar. A palavra Yoga significa a conjunção das duas, que é o estado extático de identidade entre o sujeito e o objeto.
O objetivo primeiro do Haṭha Yoga é o de interceptar as correntes da esquerda e da direita e concentrar a energia bipolar no canal central, que começa no cakra da base ou mūlādhāracakra, onde se diz que a kuṇḍalinī permanece adormecida.
Esse esforço perseverante de redirecionar a força vital tem efeito sobre a kuṇḍalinī, que fica então mobilizada.
Essa ação pode ser comparada à de um malho que golpeia repetidamente a bigorna; por isso, o sentido comum e exotérico da palavra haṭha é ‘força’.
O caminho do Hatha Yoga é uma jornada de força na qual a força vital intrínseca ao corpo é usada para a transcendência do ego.
(1) Segundo a Gheraṇḍa Saṁhitā (5.80), o haṁsā – também chamado de Gāyatrī mantra espontâneo – opera nas narinas, no coração e no mūlādhāra cakra, na base da coluna.
॥ हरिः ॐ ॥
Extraído do livro A Tradição do Yoga (traduzido por Marcelo Brandão Cipolla), Editora Pensamento, São Paulo, e digitado por Cristiano Bezerra. Copyright (c) 2001 Georg Feuerstein, Yoga Research and Education Center.
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॥ हरिः ॐ ॥
Oi Pedro!Estava fazendo umas pesquisas por aqui , e encontrei esse errinho :
“O idá é o conduto ou o fluxo da força solar, à direita. ”
bjo
Ida – Narina Esquerda, testículo direito, também chamada Candra Nadi (Nadi da Lua). Representa a Lua, Tha, frio e corresponde ao Parasimpático.Pingala – Narina Direita, testículo esquerdo, também chamada Suria Nadi (Nadi do Sol). Representa o Sol, Ha, calor e corresponde ao Simpático.