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Do vegetarianismo

Quando assisti ao documentário "A Carne é Fraca", tive que tomar uma atitude imediatamente. Deixou de ser uma questão pessoal e virou uma questão política. Um ato de cidadania

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Quando assisti ao documentário A Carne é Fraca, tive que tomar uma atitude imediatamente. Deixou de ser uma questão pessoal e virou uma questão política. Um ato de cidadania. Parar de comer carne não apenas por compaixão ou por seguir os princípios da não violência numa conduta espiritual. Mas por convicção político-filosófica-econômica.

Porque não posso ser parte de uma rede que vende tortura e morte em forma de filet mignon. Não posso compactuar com uma indústria que sobrevive às custas do sangue alheio. E na pior das hipóteses, caso eu não pensasse na violência contida no meu ato, não poderia comer um alimento que, para chegar mais rápido ao mercado, é bombardeado com medicamentos que causarão, por sua vez, a morte de quem consumir esse produto.

Porque é dado tanto antibiótico ao animal para que ele produza mais rápido e macio, que certamente esta quantidade bestial remédios vai interferir na saúde de quem pensa que não pode viver sem seu bife de cada dia. Pesquisas confirmam que nunca houve tantos casos de doenças graves relacionadas ao sistema digestivo. Óbvio! A carne recebe altas doses de antibiótico. As pesssoas comem carne. Logo, as pesssoas comem antibiótico.

Como diz o Dalai Lama, seja generoso nem que seja por egoísmo. Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem com você mesmo. Digo sempre a meus amigos que se não estiverem dispostos a abandonar este hábito, é melhor não ver o filme. Porque é impossível não tomar uma atitude. Nem que seja no sentido de diminuir o consumo.

Já é alguma coisa. Como me disse um amigo, ‘vou comer apenas três vezes por semana’… Se para ele já é um sacrifício, tapas, então está valendo. Mas gostaria mesmo era de ter dito a ele que ia acabar ficando doente mesmo comendo carne apenas três dias por semana.

O filme mostra a crueldade em série que é a indústria dos animais. Baby beef, carne tão apreciada e tão cara, é um filhote que nem tem direito de aprender a andar, para não endurecer sua carne. É criado preso, num cubículo, desde que nasce e só tem direito a poucos meses de vida (que vida?)…

Vaca é sugada até o bagaço, literalmente. Aparelhos sugam suas tetas noite e dia e se o leite acaba, hormônios garantem a fabricação de mais e mais.

Com as aves, é ainda pior. Pinto é jogado no lixo como guardanapo usado, não presta para nada. Os que nascem com algum defeito (e é óbvio que muitos nascem com problemas, por causa dos hormônios), são descartados e triturados como lixo. Provavelmente, viram os nuggets que compramos prontos no supermercado. Os que sobrevivem parecem aberrações, pois não tem pernas, são apenas peito e tem seus bicos cortados para não comerem uns aos outros. Os frangos de hoje viraram carnívoros!!!

Como se não bastasse esta violência, saber que os grãos que alimentam o gado poderiam acabar com a fome do mundo e que as florestas estão sendo devastadas para fazer pasto!!! Matam a natureza para colocar o gado que também será morto e que não matará a fome de quem precisa porque nem chegará na mesa porque nem mesa eles tem, muito menos dinheiro pra comprar bife…

Tiram a floresta e colocam grama. Tiram gente e colocam gado. Hoje em dia existem mais cabeças de gado do que seres humanos na Amazônia… Nada contra os bois, tudo a favor das vacas sagradas que são, mas derrubar florestas em época de aquecimento global, secas, é no mínimo, burrice. Estupidez a longo prazo…

Sabemos que a urina do gado é responsável pela contaminação dos lençóis freáticos e os gases que eles liberam poluem mais do que muitos automóveis. Não terão famílias as pessoas que enriquecem às custas de vidas alheias? Não pensarão nos seus descendentes, vivendo numa terra devastada? Mesmo que seja por egoísmo, seja generoso. Mais uma vez, fala o Dalai Lama: A toda ação corresponde uma reação de mesma intensidade. Causa e efeito.

No entanto, o problema é que, segundo a lei, animal é propriedade, assim como casas, automóveis. O proprietário tem direito de fazer o que quiser com eles. No entanto, se nos assemelhamos aos animais em alguma coisa, é na capacidade de sofrer.

Interessante… Tantas pessoas amam seus bichos de estimação como gente e ao mesmo tempo permitem que os que não são de estimação morram cruelmente… E ainda comem estes mesmos bichinhos que poderiam ser os seus pobres pets.

Porque é apenas uma questão cultural comer picanha ou carne de cachorro… Tortura-se animais simplesmente para satisfazer o paladar, porque está mais do que provado que não precisamos de carne para viver. Pelo contrário, qualquer nutricionista consciente desaconselharia ou pediria moderação no consumo.

A decisão é de cada um. Não se pode obrigar ninguém a nada, mas pelo menos, se for consumir carne, opte por um consumo consciente, escolha as de procedência orgânica e não violenta. Pelo menos, estará comendo um animal criado solto e livre dos hormônios e da violência implícita numa criação em grande escala unicamente para fins de enriquecer o produtor.

Acredito, cada vez mais, que as próximas revoluções não freqüentarão debates nem passeatas, muito menos empunharão armas. Ao contrário, serão pacíficas e silenciosas, movidas pela compaixão. Silenciosamente, podemos fazer nosso protesto.

E o protesto que eles, os produtores ouvirão é não consumirmos seus produtos. Não manchar nossas mãos de violência contra seres que, ao contrário de nós, não possuem o livre arbítrio. O discernimento para agir conscientemente pelo bem de todos.

Namastê!

Tereza é yogini. Mora e pratica em São Paulo. Dirigiu e produziu, em parceria com Daisy Rocha, o documentário Caminhos do Yoga, filmado na Índia em 2003.

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9 respostas para “Do vegetarianismo”

  1. A tradição budista vêm, de há milênios, através de suas escrituras e de sua prática, irmanada com o princípio de \\\’ahinsa\\\’, a não-violência. A idéia, sabida por muitos, é também a de não levar sofrimento a nenhum ser, inclusive a si próprio.
    Durante a passagem das relíquias dos Budas pelo Brasil (em 2008 e agora, em 2010), tivemos contato com os monges-guardiões das relíquias e foi também, surpresa para alguma pessoas, que até entre os monges houvessem alguns que se alimentassem ocasionalmente de carne.
    Muitos ficaram bastante chocados, constrangidos, contrariados até, ao saberem que Sua Santidade, o Dalai Lama, têm carne incluída na sua alimentação! Creio ser bastante importante uma veiculação para o público dos benefícios fisiológicos, ecológicos, espirituais do vegetarianismo. Por outro lado, qualquer defesa \\\’ideológica\\\’ de qualquer situação, não podemos esquecer que é resultado de uma composição mental.
    E invariavelmente essa composição não vem dos extratos superiores da mente e sim da mente ordinária, a mente \\\’dividida\\\’ ou, como é chamada no meio Esotérico das Tradições Sagradas, da mente profana.
    Nesse sentido, por mais louvável que seja uma \\\’pregação\\\’, se ela estiver vinculada a esses extratos \\\’menores\\\’ da mente, será apenas geradora de discórdias, maledicências, orgulhos e, inclusive, violências, das mais sutis às mais grosseiras.
    Agora, no momento em que a mente entra no estado meditativo, em que ela ascende a patamares – verdadeiramente – superiores, as \\\’pregações\\\’ saem de cena, pela percepção de que elas apenas fazem parte de uma \\\’paisagem mental\\\’.
    Neste momento desta tola exposição, rogo que essas palavras e linhas cheguem aos olhos, à compreensão e ao coração de todo leitor e leitora com um sentido de aproximação amorosa e que possamos, no tocante aos assuntos mais delicados, exercitar também uma profunda delicadeza no sentir.
    Desta forma – e com o exercício constante e sincero da meditação – talvez algo se ilumine em nós e possamos, quem sabe pela Divina Graça, compreendermos em profundidade o porquê e o sentido de alguns seres ainda se sacrificarem – em determinadas Eras – para que outros caminhem! Prosto-me perante a Liberdade Maior de cada Ser!
    Deste velho e imprestável yogi: Namastê!

  2. Parabéns pelo texto! Sinto falta de ver esse tema discutido entre os yogis! Parece às vezes que o yogi não pode ser político ou ter uma postura radical (que vai na raiz do problema) diante das injustiças, mas enfim…
    Acontece que ser vegetariano/vegano não significa apenas seguir o princípio da não violência, mas constitui uma ação política, e das mais revolucionárias, nitidamente a melhor forma que temos de tentar acabar com o holocausto animal. Achei interessante no texto a questão da escravidão animal. Todas as atrocidades são permitidas já que os animais não-humanos são propriedade dos animais humanos.
    Desconstruir essa idéia e passar a nutrir uma igual consideração a esses animais, respeitando todos os direitos que eles detém, naturalmente, pois coabitam a Terra conosco, é o que permeia a ação do Veganismo.
    Não é uma dieta e sim uma revolução interior, que pode transformar também as pessoas ao seu redor. O documentário Terráqueos (Earthlinks) é o melhor e mais completo sobre o tema. Aborda a questão do especismo (preconceito em razão da espécie) além de todas as formas de utilização animal que os homens vem praticando.
    Além do mais, tanto o vegerianismo como o veganismo são plenamente viáveis. Todos sabem que ninguém precisa de carne. Pena que a mídia controla a opinião pública no sentido contrário, garantindo os enormes lucros dos empresários do ramo. Também o veganismo é viável já que os ovos e laticínios podem ser facilmente substituídos!
    É uma alimentação barata, nutritiva, diversificada, deliciosa, simples e extremamente saudável. Segredo de longevidade. Na minha opinião, somos todos responsáveis, e urge que façamos algo! Afinal, agir conscientemente é uma atitude yogi! Pelo Abolicionismo Animal!
    Namastê.

  3. Excelente artigo. Gostaria de saber onde assistir a este documentário. Muita luz!

  4. Oi Tereza,

    Muito legal teu texto. Tem um outro filme bem punk que fala sobre o mesmo assunto, chamado Terraqueos, ou em ingles, Earthlings. Achei bem mais pesado e confesso que fiquei chorando que nem um bebê ao assistí-lo em casa.
    Deste dia em diante além de não comer mais carne, fiz questão de me livrar dos cintos e sapatos de couro que possuia. Afinal, não dá para não comer carne, mas andar com sapato de couro.
    Este assunto é muito polêmico e poucas são as vezes em que eu levanto esta bandeira numa sala de práticas ou discurso aos meus alunos, mas também tenho visto o interesse de alguns em mudar.
    Nosso papel é incentivar!!!
    Harih Om!

  5. Ana Paula, quanto as suas duvidas saiba que já foi cientificamente provado que a carne faz mal e é perfeitamente substituivel. Quanto aos caninos, existem outros animais que os tem mas que nao comem carne, como os gorilas e outros macacos. Obrigado pelo texto Teresa, gostei muito. Esse video eu acho aonde?

  6. Querida Tereza, seu artigo expressa de forma belíssima os motivos pelos quais TODOS deveriam se tornar vegetarianos.

    Confesso que quando assisti ao documentário, eu não consegui assistir algumas cenas, pq me causaram muita dor e sofrimento.

    Sempre procuro dar alguns toques e algumas informações (que a mídia faz a questão de esconder) aos meus amigos e familares carnívoros. Porém admito que quando ainda assim eles insistem em continuar na sua “carninha”, passo a desconfiar do bom senso e da razão do indivíduo…

    Me dá dó ter que ouvir da minha mãe: “Ah, mas a gente foi acostumado a sempre comer carne… Eu adoro um bifezinho… É difícil largar velhos hábitos…” e por aí afora. Me dá dó maior ainda por saber que ela é portadora de insuficiência renal crônica e a carne (devido às proteínas) é um dos maiores inimigos dela.

    Mas a gente vai tentando convencer um aqui, mostrando as verdades para outro ali… Pena que tem gente que até sabe da verdade mas quer fingir que nela não existe. Já ofereci o documentário à alguns amigos que se recusaram a vê-lo pq me disseram que não conseguiriam mais comer carne se o assistissem!

    Bem, Tereza, gostaria de sua autorização para postar seu artigo lá na comunidade do Orkut, Se vc me autorizar, coloco o texto lá para nossos amigos orkutianos terem a chance de desfrutá-lo também.

    Um grande beijo!

    p.s.: ANA PAULA, eu passei e passo por situações semelhantes, não por estar grávida, mas por ter tido um problema sério na tireóide no ano passado e ter que estar em constante controle sobre isso. Já ouvi muitas coisas de médicos, e cheguei a quebrar meu vegetarianismo por conta deles. Mas depois eu me rebelei e passei a dizer na cara dos médicos que eu faria do meu jeito e que o risco seria tão somente meu. E posso te afirmar que hoje a minha saúde vai muito bem!!! Quanto aos “caninos”, existem amiguinhos animais que tb os têm e são totalmente vegetarianos. Lembre disso aos seus amigos! Beijos e boa sorte com o bebê.

  7. Oi Tereza

    Que texto maravilhoso, na medida para o que estou precisando.

    Disse ao Pedro que passaria dois textos dele sobre vegetarianismo para os alunos, pois estava havendo grande interesse deles no assunto. Vou tomar liberdade de passar o seu também, pois complementará o assunto de forma perfeita.

    Obrigado,

    Um abraço. Saudades.

  8. Olá Tereza,
    Seu texto resume todo o mal que esse consumo traz à humanidade, desde no aspecto da saúde até o meio-ambiente, mas, como vegetariana desde meus 11 anos de idade (graças a Deus meus pais são pessoas conscientes) agora que estou grávida tenho que comprar uma verdadeira “briga” para dar continuidade à minha filosofia, e confesso que mesmo tomando suplementos de B12 às vezes me pego fraquejando, pois escuto opiniões de que o feto vai nascer subnutrido por falta de carne, que o cérebro não vai ser bem formado, que não vou produzir leite,enfim, até a clássica pergunta: Por que temos caninos? Mas ler todas essas informações me dão força para seguir em frente, obrigada!

  9. Obrigado por mais este pequeno GRANDE texto que tão claramente ilucida e explica os maleficios do consumo de animais indefesos.
    São precisas intervenções destas, com uma natureza baseada no Amor e na Liberdade, para que este mundo evolua no verdadeiro sentido da palavra “Evolução”. Muito obrigado! Continuem com o bom trabalho!

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