Cakras e Kośas, Meditação, Pratique

Meditação no Mūlādhāra Chakra

O múládhára chakra governa o instinto de sobrevivência, o sentido do olfato e o elemento prithiví (terra). Esta prática inclui ákásh pránáyáma, naságra drishti, múla bandha, o bíja mantra e a descrição completa do chakra segundo a iconografia tântrica. Esta meditação nos ajuda a viver em harmonia com as leis que governam o nosso corpo.

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mūlādhāra

Esta meditação sobre o cakra básico, chamado mūlādhāra, inclui a visualização do centro de força, o mūlabandha, e a repetição mental do bīja mantra deste cakra.

॥ हरिः ॐ ॥

Sente numa posição de meditação com as costas eretas e as mãos em cinmudrā. Mantenha os olhos fechados. Inspire profundamente e vocalize o mantra Oṁ durante três vezes: Oṁ, Oṁ, Oṁ. Permaneça consciente do seu corpo. Construa uma imagem mental do corpo. Ou sinta seu corpo. Ou as duas. Como você quiser.

Permaneça consciente do corpo inteiro. Tome consciência da sua espinha dorsal, que está perfeitamente ereta, sustentando o pescoço e a cabeça. Tome consciência da posição equilibrada dos braços e pernas.

Consciência total no seu corpo inteiro. O corpo inteiro, dos pés à cabeça. Imagine-se como se estivesse crescendo a partir do chão, como se fosse uma árvore. Suas pernas são as raízes da árvore. O resto do corpo é o tronco.

Vivencie isto com intensidade. Você está crescendo a partir do chão, fixando-se no chão. Absolutamente estável. Absolutamente imóvel. Como se fosse uma árvore enorme e forte.

Perceba-se, vivencie-se crescendo a partir do chão. Fixando-se no chão. Unindo-se com o chão. Não há diferença entre o corpo e o chão. Você está absolutamente estável. Absolutamente imóvel. Consciência intensa (1/2 minuto em silêncio).

Concientize-se das partes do corpo, começando pela cabeça. Visualize a sua cabeça e mantenha consciência total nela. Faça o mesmo com o pescoço. Visualize o seu pescoço e mantenha consciência total nele. Faça o mesmo com o ombro direito. O ombro esquerdo. O braço direito. O braço esquerdo. A mão direita. A mão esquerda.

Permaneça consciente. As costas inteiras. O peito. O abdômen. O glúteo direito. O glúteo esquerdo. A perna direita. A perna esquerda. O pé direito. O pé esquerdo. O corpo inteiro de uma só vez. Consciência total no seu corpo inteiro. O corpo inteiro, como uma unidade (1/2 minuto em silêncio).

Agora visualize o exterior do corpo. Como se você estivesse se vendo num espelho. Veja seu corpo na posição de meditação. Pela frente. Pelo lado direito. Pelo lado esquerdo. Por trás. Por cima. E depois, de todos os lados ao mesmo tempo. Consciência total no seu corpo inteiro. Seu corpo inteiro, como uma unidade.

Tome consciência das sensações físicas que o seu corpo experimenta. Consciência total em todas as sensações físicas. Permita que estas sensações se transformem num foco para o seu pensamento. Consciência total.

Faça um sankalpa: tome a resolução de permanecer absolutamente estável e imóvel durante toda a prática. Repita mentalmente: ‘durante toda a prática fico absolutamente estável, absolutamente imóvel. Absolutamente estável e imóvel’. Fique atento aos sinais de desconforto do corpo. Consciência total em todos os sinais de desconforto: dor, coceira, formigamento, necessidade de deglutir saliva, o que for. E permaneça absolutamente firme e imóvel.

Quando você se prepara para permanecer atento e evitar todo e qualquer movimento, o corpo permanece imóvel e rígido como uma estátua. E você percebe uma sensação de levitação astral. Se houver algum movimento inconsciente, tome consciência desse movimento.

Torne-o consciente. Consciência total no corpo e na estabilidade. Consciência total no corpo e na imobilidade. Seu corpo está totalmente estável e imóvel. Absolutamente firme e descontraído. Esta é a forma da sua consciência agora (1/2 minuto em silêncio).

Você está preparado para manter esse estado. Sinta seu corpo ficando mais e mais rígido. Mais e mais firme. Tão rígido e firme que, depois de algum tempo, você não consegue mais se mexer. Consciência total no corpo e na rigidez.

Consciência total no corpo e na firmeza. Seu corpo está absolutamente rígido e firme. Rígido e firme, porém, perfeitamente descontraído e relaxado. Absolutamente imóvel. Consciência intensa (1/2 minuto em silêncio).

Ao manter a consciência centrada, você sente o seu corpo ficar cada vez mais leve, cada vez mais sutil. Tão leve e sutil, que a consciência do corpo se esvai. A consciência do corpo se esvai (1/2 minuto em silêncio). Este é o momento para transferir a atenção para o ritmo natural da sua respiração. Consciência total no ritmo natural da respiração.

Observe a respiração na entrada das narinas, mantendo nasikagra drishti, a fixação do olhar na ponta do nariz com os olhos abertos e totalmente relaxados. Consciência total no ritmo natural da sua respiração, mantendo-a tão silenciosa quanto for possível.

Agora coloque a consciência no limite exterior das narinas, no ponto que define se o ar está dentro ou fora delas. Dentro ou fora do seu organismo. Consciência total.

Leve agora a consciência para além do limite das narinas. Observe o movimento de entrada e saída do ar. Ao exalar, o ar de fora é deslocado pelo ar que sai das narinas. Ao inalar, o ar nos pulmões é comprimido pelo ar novo que entra.

Consciência total no processo respiratório, mantendo a respiração tão silenciosa quanto for possível. Torne a respiração mais sutil. Prolongue aos poucos a duração da inspiração e da expiração. Não force nada. Respiração leve e sutil (1/2 minuto em silêncio).

A sua respiração fica tão sutil que ao inspirar, não há compressão do ar dentro dos pulmões, e ao exalar, não há deslocamento do ar de fora. A sua respiração está absolutamente silenciosa. Aqui você experiencia o ákásh, princípio do espaço.

O Mūlādhāra

mūlādhāra

Coloque a atenção no mūlādhāra cakra, na extremidade inferior da espinha dorsal. Ao mesmo tempo, faça mentalmente o bíja mantra Lam. Repita este mantra de maneira contínua e rítmica, associando o ritmo com a respiração: Lam, Lam, Lam, Lam, Lam. Consciência total no mūlādhāra.

Faça japa mentalmente, criando uma textura sonora constante e uniforme. Sinta a vibração do mantra ressoando no chakra. Para revelar seu poder, o bíja mantra precisa fazer-se junto com visualizações.

Associe o bījamantra com o mūlabandha, a contração do períneo e os esfíncteres. Ao inspirar, contraia aos poucos esta área. O ponto culminante da inspiração é também o ponto de tensão máxima do mūlabandha. Cesse lentamente a contração ao exalar.

O ponto culminante da exalação é também o ponto de relaxação máxima do mūlabandha. O ponto culminante da inspiração é o ponto de tensão máxima da contração. O ponto culminante da exalação é o ponto de relaxamento máximo da contração.

O ponto culminante da inspiração é o ponto de tensão máxima da contração. O ponto culminante da exalação é o ponto de relaxamento máximo da contração. Inspire e contraia progressivamente. Expire e relaxe progressivamente. Consciência contínua e intensa no mūlādhāra cakra.

Associe agora ao bījamantra e ao mūlabandha a imagem de um quadrado amarelo açafrão nesta área, inscrito dentro de um lótus de quatro pétalas vermelhas. O quadrado é símbolo de pṛthivī, o elemento terra. Sinta que esse yantra acorda em você o sentido do olfato.

Mergulhe dentro do quadrado amarelo e perceba o suave perfume do sândalo do corpo sutil. Sinta este perfume. Visualize o bīja mantra Lam na cor dourada, pulsando sobre o quadrado.

Sobre o bīja, construa um triângulo vermelho invertido, yantra de kuṇḍalinī śakti. Dentro do triângulo aparece o svāyambhu liṅgam, fundamento criador, que brilha como o diamante.

No centro do mūlādhāra cakra, enroscada três vezes e meia em torno do liṅgam, jaz adormecida uma serpente, símbolo de kuṇḍalinī, a energia latente. A cabeça da serpente aponta para cima, em direção ao sahasrāra. Da sua boca, aberta, nascem as três principais nāḍīs: īḍā, piṅgailā e suṣumṇā.

[Atenção: nas primeiras práticas, se você for iniciante ou tiver dificuldades para visualizar claramente, omita esta parte da meditação e passe diretamente à visualização do redemoinho de luz.]

Abaixo do triângulo está o elefante Airavāta. A pele do elefante é cinza clara, como as nuvens. Ele tem sete trombas, das cores do arco-íris. Sobre o múládhára, do lado esquerdo, está Balabrahmā, o Brahmā criança.

É uma criança radiante, com quatro cabeças e quatro braços. Sua pele é da cor do trigo. Ele veste um dhoti amarelo. Um pano verde cobre seus ombros. Olha em todas as direções ao mesmo tempo. Com a mão superior esquerda ele sustenta uma flor de lótus.

Com o outro braço esquerdo, os Vedas. No braço inferior direito ele tem o amṛtakūmbhaka, o pote do licor da imortalidade. Com a outra mão ele faz abhāya, o gesto de dissipar o medo.

Ao seu lado está Dakiṇī, a śakti do cakra. Ela tem uma cabeça e quatro braços. Sua pele é cor de rosa. Veste um sāri vermelho. Seus olhos são vermelhos. Com a mão superior esquerda segura um tridente. Na outra mão esquerda tem uma caveira. Na mão inferior direita, um escudo. Na outra, uma espada.

O regente do cakra é Gaṇeśa. A sua pele é alaranjada. Veste um dhoti amarelo. Um pano de seda verde cobre seus ombros. Ele tem quatro braços. Com a mão superior esquerda sustenta uma flor de lótus. Na outra mão esquerda tem uma bandeja de doces.

A mão inferior direita se eleva em abhāyamudrā, o gesto de dissipar o medo. Com a outra segura um machado. Consciência total na representação do múládhára cakra (5 minutos em silêncio).

Se em algum momento você perder a imagem, construa tudo de novo: respiração lenta e consciente associada ao mūlabanda, a repetição mental do bíja mantra Lam, o quadrado açafrão, yantra do elemento terra, o despertar do sentido do olfato, as quatro pétalas vermelhas, o bīja mantra pulsando sobre o quadrado, o triângulo vermelho invertido, o liṅgam, a serpente enroscada, as nāḍīs surgindo da sua boca, o elefante Airavāta, de sete trombas, Balabrahmā, o Brahmā criança, Dakiṇī Śakti, Gaṇeśa (5 minutos em silêncio).

Agora visualize que o mūlādhāra se torna um lótus vermelho incandescente. Aos poucos, o lótus começa a girar. Um vórtice de energia girando vertiginosamente. Mergulhe nesse redemoinho. Observe o sentido do giro. Sinta a vibração da energia primal pulsando através de você. Consciência intensa e contínua (5 minutos em silêncio).

Nesse momento, a imagem do lótus do mūlādhāra se esvai. Conclua a meditação. Mantenha os olhos fechados (1 minuto em silêncio). Fique atento ao momento presente, aos seus sentimentos, ao efeito da prática, ao lugar onde você está. Então, movimente-se devagar. Abra os olhos. A prática de meditação está completa. Oṁ śāntiḥ śāntḥ śāntiḥ.

॥ हरिः ॐ ॥


Atenção.

Estas práticas de meditação sobre o mūlādhāra e os demais cakras são apresentadas aqui a título de registro e para fins de estudo e referência. Elas não têm a intenção (nem a capacidade) de substituir a presença do professor na sala de aulas.

Não aconselhamos que você pratique isto sozinho em casa se não tiver experiência prévia nesse tipo de meditação. Recomendamos calorosamente que as aprenda, assim como todas as demais técnicas de Haṭha Yoga, pessoalmente, através de um professor qualificado.

॥ हरिः ॐ ॥

O texto acima pode usar-se como modelo de elocução: você estuda a técnica e grava a sua própria voz, lendo pausadamente (uma frase a cada quatro segundos, aproximadamente) e respeitando os tempos que aparecem sugeridos entre parêntesis (ou reduzindo-os proporcionalmente).

Outra opção é fazer pequenos grupos de meditação com seus amigos, onde cada um pode usar os textos como orientação para dar a prática para os outros, desde que sejam respeitados os cuidados que colocamos acima.

Se você for professor de Yoga, poderá igualmente usar essa prática de meditação sobre o mūlādhāra nas suas aulas, tomando o cuidado de escolher a técnica mais adequada para cada pessoa ou grupo.


॥ हरिः ॐ ॥

Leia este texto primeiro: Introdução aos Cakras.

Eis as meditações sobre os oito cakras principais:

8. Meditação no Sahasrāra Cakra

7. Meditação no Soma Cakra

6. Meditação no Ājña Cakra

5. Meditação no Viśuddha Cakra

4. Meditação no Anāhata Cakra

3. Meditação no Maṇipura Cakra

2. Meditação no Svādhiṣṭhāna Cakra

1. Meditação no Mūlādhāra Cakra

॥ हरिः ॐ ॥

Extraído do livro Yoga Prático.

Saiba mais sobre cakras e kośas aqui (texto em inglês).

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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