O corpo. Lá vem ele de novo. Esse mistério. Não é preciso ir muito longe para sentir o arrepio do espanto curioso. De olhos fechados a escuridão transforma-se em imensidão e o corpo em niverso amplo. Um universo que como esse do lado de fora tem dias e noites. Pulsa.
O tambor toca bem no centro do peito e marca o tempo da vida que se respira em ondas. Ondas que se alargam em respiração solta que em fluxo manso desfaz a pele. Respira-se como um todo amplo. Respira-se e mistura-se o mistério no mistério maior. E o tempo para em coração elevado. Pensamento é coisa pequena quando o corpo é maior. Pensamento é detalhe sem graça perto da graça maior.
É preciso fechar os olhos para que se possa abrir a pele. É preciso recolher-se para abrir-se de outra forma. Ou abrir-se desde a barriga, desde um fundo que não se localiza. Um âmago que se percebe perto do útero. Abrir-se é um parto de si mesmo. Um alívio de nascer e morrer ao mesmo tempo. Uma abertura de semente, um broto que surge de um quase nada pleno de tudo.
Como pode nascer algo maior de um ser tão pequeno? Tão raquítico quando tonto pelas próprias idéias? Como pode nascer o todo do nada? Potência misteriosa. A respiração te acorda e te põe a crescer ao contrario. Até que transbordes um algo maior que vem do nada. De um canto microinfinito desabrocha um oceano… não faz sentido. Que bom que não faz. Melhor que não faça, ou ficaria pequeno.
A escuridão pode ser proveitosa e reflexiva Wagner Xavier