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O Oceano da Vida

Bahr Al-Hayat, ou "O Oceano da Vida", é um incrível texto sufi sobre Haṭhayoga do início do século XVII, atribuído ao sábio Muhammad Ghawth Gwaliyari. Dizemos incrível, pois ele mostra a tolerância e o interesse do sufismo pelas práticas do Haṭhayoga tântrico que eram muito populares na época. O texto foi encomendado pelo Imperador Jahangir, pai do Shah Jahan, construtor do Taj Mahal.

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Oceano da Vida

Bahr Al-Hayat

Bahr Al-Hayat, ou “O Oceano da Vida”, é um incrível texto sufi sobre Haṭhayoga do início do século XVII, atribuído ao sábio Muhammad Ghawth Gwaliyari. Dizemos incrível, pois ele mostra a tolerância e o interesse do sufismo pelas práticas do Haṭhayoga tântrico que eram muito populares na época. O texto foi encomendado pelo Imperador Jahangir, pai do Shah Jahan, construtor do Taj Mahal.

Os mestres de Yoga sempre ensinaram direta e presencialmente a seus discípulos. Esse é o motivo pelo qual os textos tradicionais do Haṭhayoga descrevem de apenas maneira muito sucinta os āsanas, mudrās, prāṇāyāmas e técnicas de meditação. O mais antigo manuscrito contendo ilustrações detalhadas de āsanas que chegou até nós daquela época é este “Oceano da Vida”, Bahr Al-Hayat.

O texto data do início do século XVII. Foi editado junto com outras três obras similares, entre 1600 e 1604 na corte indo-islâmica de Allahabad, a pedido do príncipe Salim, futuro imperador mughal que seria posteriormente conhecido como Jahangir. Para situar o amigo leitor na linha do tempo, Jahangir foi o pai de Shah Jahan, construtor do célebre Taj Mahal.

Nenhum dos āsanas que este texto lista aparecem noutros tratados sânscritos anteriores a ele. Tampouco há notícia de outro texto da mesma época que forneça descrições tão detalhadas das posturas quanto este que nos ocupa.

O texto original, em persa, foi composto no Gujarat, pelo menos meio século antes da encomenda do príncipe, por volta de 1550, por Muhammad Ghwath Gwaliori, um proeminente mestre espiritual sufi, que muito provavelmente se inspirou numa obra anterior, já perdida, que ostenta um nome similar: Amṛtakuṇḍa. Amṛtakuṇḍa significa “O Lago da Imortalidade”. 

O Oceano da Vida e o Haṭhayoga

O Bahr Al-Hayat está igualmente baseado em ensinamentos práticos e conversações com yogis e gurus da época. O texto nos mostra como as práticas do Yoga eram familiares para os ascetas sufis. 

O objetivo de Ghwath era ensinar seus discípulos as práticas de Haṭhayoga e alguns aspectos da visão do Vedānta, como o cultivo dos valores, que são em tudo compatíveis com a meta sufi do crescimento espiritual. 

Apresentamos aqui uma tradução adaptada do quarto capítulo do Bahr Al-Hayat, traduzido originalmente do persa pelo estudioso Carl W. Ernst. Ele se baseou na comparação de sete manuscritos diferentes.

Nesse quarto capítulo da presente obra, aparece um extenso leque das práticas do Haṭhayoga: ṣaṭkarma, āsana, mudrā, prāṇāyāma, mantra e várias formas de meditação. Essas práticas, pela ordem em que aparecem no texto, são as seguintes: 

1. Sahajāsana e o mantra soham.

2. Alakhāsana.

3. Karbat e kahkī.

4. Garbhāsana e nirañjan.

5. Cakrī.

6. Bunaulī (nauli).

7. Padmāsana e gorakhī.

8. Śīrṣāsana e akūñchan.

9. Siddhāsana e o som anāhata.

10. Brahmarandhra e o som nāda.

11. Kanvalāsana e śītalī prāṇāyāma.

12. Bhuvaṅgam prāṇāyāma.

13. Bodhaka.

14. Tarāvat.

15. Khecharī mudrā e siddhāsana.

16. Titikā.

17. Kūmbhaka prāṇāyāma.

18. Sahasāsana.

19. Cakrāsana.

20. Thambhāsana.

21. Vajrāsana.

22. Sunāsana.

Em textos posteriores como a Haṭhayoga Pradīpikā ou a Gheraṇḍa Saṃhitā, estas mesmas técnicas irão aparecer de maneira mais sistematizada e organizada. Porém, apesar da aparente falta de ordem em que as práticas são aqui apresentadas, o Bahr Al-Hayat possui uma virtude única dentre estes textos.

O “Oceano da Vida” associa a cada uma dessas práticas, mesmo as que possam nos parecer mais “técnicas”, a reflexão sobre um mantra, ou a repetição de um dhikr (meditação sobre um dos aspectos do Divino), que devem ser feitos junto com a execução de ações como āsanas ou prāṇāyāmas.

Alguns desses nomes podem ser imediatamente identificados por praticantes de Yoga da atualidade, como por exemplo siddhāsana, khecharī mudrā, ou o mantra soham

Outros, embora usados na atualidade para designar posturas familiares, apontam neste contexto a posturas diferentes, como vajrāsana ou cakrāsana. Há posturas tradicionais do Haṭha que apresentam nomes diferentes, como o sunāsana, que não é outro que o kakkāsana, a postura do corvo. Outros, em persa, são novos.

Oceano da Vida
O Oceano da Vida, Bahr Al-Hayat

Aqui há um interessante artigo da Wikipedia, em inglês, sobre os paralelismos entre o Yoga e o sufismo.

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Pedro nasceu no Uruguai, 58 anos atrás. Conheceu o Yoga na adolescência e pratica desde então. Aprecia o o Yoga mais como uma visão do mundo que inclui um estilo de vida, do que uma simples prática. Escreveu e traduziu 10 livros sobre Yoga, além de editar as revistas Yoga Journal e Cadernos de Yoga e o site yoga.pro.br. Para continuar seu aprendizado, visita à Índia regularmente há mais de três décadas.
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Subhāshitas, Palavras de Sabedoria

Pedro Kupfer em Conheça, Literatura
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