O setor de emergências de um hospital público de Portugal não parece o melhor lugar para escrever um texto sobre rejuvenescimento. Mas é justamente nesse lugar que comecei a pensar neste artigo, hoje de manhã, enquanto tentava me curar de uma gastroenterite, produto de comer fruta mal lavada. À minha volta, uma série de velhinhas portuguesas, todas vestidas de preto, que certamente haviam sobrevivido aos seus maridos e aguardavam pacientemente comigo para ser atendidas.
O leitor atento deve ter percebido que a intenção deste colunista é trazer a atenção da nossa comunidade para os contextos culturais e filosóficos onde o Yoga acontece e aconteceu. É sabido que uma parte da nossa comunidade sempre manifestou uma tendência a se focar quase que exclusivamente nos aspectos corporais e superficiais da prática de Yoga, em detrimento da apreciação do Yoga como a visão libertadora que ele é.
Existe uma sorte de consenso, em alguns círculos de praticantes de Yoga, que diz respeito ao fato de que julgar seria algo notadamente ruim. Assim, diz-se que não devemos julgar a nós mesmos e, muito menos, dirigir julgamentos aos demais ou ao que eles fazem. Nesse sentido vemos que acontece em relação à palavra julgamento, a mesma distorção que testemunhamos em relação à palavra karma: o termo é usado para se referir aos frutos indesejáveis de uma ação quando, a bem da verdade, karma significa apenas "ação", e é um termo neutro.
Se quiser me livrar do senso de inadequação, do sentimento de ser insignificante devo, em primeiro lugar, reconhecer que, em termos de corpomente, sou mesmo insignificante, assim como a Terra é insignificante e o sistema solar é insignificante.
Se alguém faz um comentário sobre você, permita que o faça. Se o comentário não for verdadeiro, você geralmente tenta justificar suas ações e prova que ele estava errado. Se você é objetivo, você vai tentar ver se existe qualquer validade na crítica dele sobre você. Se ele o colocou para baixo para a sua própria segurança, lhe dê essa liberdade e então você está livre.
Cada parte do corpomente tem sua importância. Não obstante, ouvimos muitos praticantes de Yoga dizer que é preciso vencer o ego, ou anulá-lo, por ele lhes parecer a causa de suas aparentes limitações. De fato, um ego fora do controle é capaz de causar mais dor do que um joelho enfraquecido. Acontece que descartar o ego não é uma opção, já que ele faz parte da ordem psíquica que somos.
Éramos idealistas e tínhamos a certeza de que o Yoga poderia mudar o mundo, tornar a sociedade humana um lugar mais amigável e o ser humano um bicho menos brutal. Pessoalmente, mantenho essa convicção ainda hoje, não mais aplicada à sociedade como um todo, senão a alguns indivíduos que estejam prontos e desejem dar esse passo.
Surf e Yoga têm tudo a ver. O surf pode ser visto como uma prolongação da prática de Yoga e o Yoga como um complemento natural do surf, ou viceversa. Quando feito com a atitude correta, com o que o estudioso Georg Feuerstein chama de "pensamentoyogue aplicado", o surf pode ser considerado uma forma de Karma Yoga, o Yoga da ação consciente.
Um dia, conversando com uma amiga surdo-muda, perguntava-lhe como era estar sempre no silêncio. Achava eu que deveria ser por um lado assustador e por outro maravilhoso mas, para a minha surpresa, ela me perguntou: "que silêncio?"
Alguns anos atrás me disseram que os filhos, para as mulheres ocidentais, eram como os gurus para os hindus, isto é, traziam ensinamentos e sabedoria através da experiência da díade mãe-bebê e também da relação mãe, bebê e sociedade. Melhor dizendo, na presença ínfima de mestres espirituais no ocidente, a criança plena por nascença exerceria tal papel.
Comumente, negamos os próprios problemas e suportamos a dor. Nós não queremos enfrentar os problemas porque isso é muito desagradável. Como crianças, nós também negamos os nossos problemas. Esta negação é uma espécie de fuga de algo que é desagradável e é o caminho que nós geralmente tomamos para gerir os problemas.
Porque isso é o que não somos e por isso, não reconhecemos e sofremos. Isvara pranidhana é ter certeza que tudo que nos acontece faz parte de uma ordem perfeita. Ao invés de nos vitimizarmos ou culparmos procurando encontrar razões para justificar o que nos acontece, simplesmente receber de braços abertos a vida, o momento, o bom e o menos bom.
O que quer que lhe negue a visão da Verdade tem que ser eliminado juntamente com as noções limitadoras e preconceitos que você tem sobre si mesmo. Então, você se condena, deste jeito: “Eu sou inútil”, “Eu não valho nada”; bem, isto se trata de uma auto condenação que está no caminho do conhecimento do que você é.
A felicidade impermanente aumenta ou diminui segundo o caso, mas sempre tem um limite a partir do qual seu oposto, a tristeza, começa a se manifestar. É assim com todos os pares de opostos. No movimento do pêndulo, a partir de um dado momento, o que estava subindo começa a descer. Não existe crescimento ilimitado, prosperidade ilimitada, nem força física ilimitada. Expansão e recolhimento são as duas caras dessa moeda: uma não existe sem a outra.
Os cães podem ser grandes professores de Yoga. Aprendemos muito só de olhar para eles. Estão sempre alerta, sempre atentos a tudo, sempre presentes, sempre no aqui e no agora! Suas mentes não guardam lembranças nem tão pouco fazem projetos para o futuro nem para quando a aposentadoria chegar.
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